Neste dia 20 de novembro, o Brasil volta seu olhar para a história e para as lutas que moldaram e ainda moldam a vida e o cotidiano da população negra. O Dia da Consciência Negra vai além das homenagens a Zumbi dos Palmares, é um convite para refletir sobre o presente, passado e futuro.

Símbolo de resistência e ancestralidade, o cabelo torna-se também símbolo de afirmação e construção da identidade de muitos homens e mulheres negras. 

O publicitário Matheus Valério, de 26 anos, natural de João Pessoa, conta que passar a deixar seu cabelo crescer também foi um processo de autoconhecimento e afirmação da sua identidade enquanto homem negro. 

“Quando eu parei para pensar sobre meu processo de crescimento de cabelo ele vai direto com o processo de construção da minha identidade e de como eu sou como indivíduo. O cabelo para um homem, ou mulher negra, não é só um cabelo, é a construção da nossa identidade. É abraçarmos nossa ancestralidade, nossa cultura, nosso território”, comentou Valério.

Historicamente, os cabelos crespos, cacheados e ondulados foram alvos de estigmatização, e da adequação, ou não, aos padrões de beleza que impõem um ideal. Matheus lembra que, ainda criança, ouvia frases que associavam beleza negra ao cabelo sempre curto.

“Pessoas pretas, de modo geral, crescem ouvindo que o seu cabelo não é bonito. Quando eu era criança, diziam para mim ‘Preto bonito é preto de cabelo baixinho’, isso me atravessou durante muito tempo e em vários momento da minha vida”, 

Hoje, ao permitir que seus fios cresçam, o publicitário diz que também rompe com essas narrativas “Deixar meu cabelo crescer é dizer ‘não’ a tudo aquilo que ouvi durante a vida toda. O processo de crescimento do meu cabelo vai direto com o processo de construção da minha identidade”, completa.

O Dia Nacional da Consciência Negra é uma oportunidade para refletir sobre essas questões e reconhecer a importância da representatividade e do respeito às diferenças. O papel desempenhado pelos cabelos, assim como a cor da pele, na construção da identidade negra, se torna não só um elemento de beleza, mas um elemento político.